8 de junho é o Dia Mundial dos Oceanos. Durante o mês, a Traits-d’Union lança uma série de artigos sobre o oceano e os plásticos, escritos por Caroline Verna, oceanógrafa.
Recentemente, ouvimos muito sobre a ameaça do plástico e seus perigos para o oceano. Em breve, haverá mais plástico do que peixes no oceano. Pergunta-se, o que está acontecendo? de que plásticos estamos falando? Como eles chegam ao nosso oceano? Qual é a situação no Brasil? E o que podemos fazer para mudar isso?
300 milhões de toneladas de plásticos lançados em todo o mundo.
Os plásticos se tornaram onipresentes em nossa vida diária: no banheiro, nossa escova de dentes, shampoos. Na cozinha, embalagens diversas (PP), congelados (OS) e “tupperware”. No quarto das crianças, os brinquedos. No nosso guarda-roupa, roupas de fibra sintética como este confortável suéter de lã, nossos maiôs e roupas de praia (nylon, poliéster, poliamida etc.), sem falar nos sapatos. Eles também estão em cortinas de chuveiro ou cabos elétricos (PVC). Em absorventes higiênicos, fraldas descartáveis, diversos toalhetes de pele e de limpeza. Em saquinhos de chá para lhes dar resistência. E também, plásticos descartáveis que são usados uma vez e depois jogados fora, como embalagens de isopor (PS), talheres e copos descartáveis, garrafas de água (PET), sem falar de canudos (PP).Dependendo dos tipos de plástico, eles apresentam nomes (PP, PS, PET). Essas abreviaturas podem variar de país para país. Os números no símbolo de “reciclagem” correspondem cada um a um tipo de plástico e são internacionais. Por exemplo, ♳ significa poli (tereftalato de etileno) PET em português e francês. (consulte o guia “Breakfreefromplastic”).
Consultar o guia completo em francês aqui e em português aqui
Diante de uma grande diversidade de plásticos, cada família consome e gera muito lixo de plástico. De acordo com um estudo do WWF divulgado em 2019, produzimos 400 milhões de toneladas de plásticos em 2016. Essa produção acelerou pois se produziu tanto plástico entre 1950 e 2000 quanto entre 2000 e 2016. Desse plástico, 75%, ou cerca de 300 milhões de toneladas, já foram jogados fora.
Se não fizermos nada, a quantidade de plástico no planeta dobrará até 2030. Isso corresponderia a 26 mil garrafas plásticas por km² ou 8.320 garrafas na praia de Copacabana.
Caroline Verna
Para onde vão esses milhões de toneladas que foram jogadas fora? ⅓, ou 100 milhões de toneladas, já poluem a natureza, seja na terra ou na água. O estudo do WWF prevê que, se não fizermos nada, a quantidade de plástico no planeta dobrará até 2030 e poderá chegar a 300 milhões de toneladas no oceano. Isso corresponderia a 26 mil garrafas plásticas por km². Se imaginarmos uma área conhecida como praia de Copacabana-Leme, seriam 8.320 garrafas na praia.
E no brasil? O Brasil é o 4º maior produtor de resíduos plásticos do mundo com 11,3 milhões de toneladas por ano, atrás dos Estados Unidos, China e Índia. Apenas 1,3% desse plástico é reciclado. A maioria vai para aterros regulares, mas 2,4 milhões de toneladas são jogadas em aterros irregulares à céu aberto ou em estado selvagem.
Apenas 1% do plástico no oceano continua a flutuar. Estima-se que 80% dos resíduos plásticos no oceano provêm de fontes terrestres. Atualmente, entre 9 e 10 milhões de toneladas de plásticos entram no oceano a cada ano (ou cerca de 25.000 toneladas por dia). E o restante do resíduo (20%) vem de usuários no mar (resíduos de barcos perdidos ou abandonados e redes de pesca).
O plástico visto no oceano vem de todo aquele plástico que usamos e jogamos no lixo. O vento e o escoamento da chuva o carregam para os nossos rios e faz flutuar para o oceano. No Brasil, grandes bacias hidrográficas, como, por exemplo, a Amazônia, podem transportar o plástico do interior para o litoral, da bacia do Araguaia-Tocantins, no estado de Goiás, até Belém. Ao Sul, os rios de São Paulo ou Curitiba são afluentes do Rio Paraná cuja foz faz fronteira com a Argentina, carregando resíduos plásticos flutuando em longas viagens. Em nossa circunscrição, as principais redes fluviais são o Rio Doce, afetado pelos desastres das barragens em Minas Gerais, e o Rio Paraíba do Sul. No Rio, a Baía de Guanabara é uma grande fonte de poluição. Estima-se que cerca de 100 toneladas de plástico saem da baía para o Oceano Atlântico a cada dia.
Uma vez no oceano, a densidade desse plástico muda com a ação do sol e o crescimento de bactérias ou algas. Ele se fragmenta e afunda. O estudo WWF 2019 estimou que apenas 1% do plástico no oceano continua a flutuar, a maioria está no meio do oceano ou chega ao fundo.
Os plásticos que continuam a flutuar tendem a se acumular em certas áreas do oceano, que são chamadas de gires (redemoinhos grandes e muito lentos que se estendem por várias centenas de kilômetros) e formam o que às vezes é chamado de 7º continente. Aqueles que afundam se acumulam no fundo do oceano. O sol e as ondas modificam a qualidade do plástico que tende a se fragmentar. À medida que se torna cada vez mais fragmentado, o plástico torna-se tão pequeno que fica “invisível” e é classificado como micro plástico abaixo de 5 mm. Esse tamanho pequeno torna ainda mais difícil extraí-lo dos ecossistemas.
Nos próximos episódios, falaremos sobre os efeitos do plástico em nosso ecossistema e possíveis soluções para reduzi-lo.
Texto escrito por Caroline Verna e traduzido por Antony Diogo Moraes de Araujo
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