Foi através da imprensa que o mundo inteiro descobriu que o Estado francês está trabalhando na venda da Maison de France no Rio de Janeiro, um edifício emblemático da presença francesa no Brasil. Depois do fechamento dos Institutos franceses de Nablus na Cisjordânia e de Valência na Espanha, agora 70 anos de história e de cooperação cultural entre a França e o Brasil deveriam fechar suas portas?
O mandato coletivo consular Traits-d’Union, representante dos franceses residentes no Brasil (nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espirito Santo) denuncia a total opacidade por parte do ministèrio das relações exteriores francês, que até se recusaram a participar do conselho consular de emergência convocado por sua Presidente, Mélanie Montinard, para esclarecer a situação.
Expressamos também nosso mais firme desacordo com a política desenfreada de desengajamento do Estado francês no exterior, que despreza séculos de tradição de cooperação cultural e diplomática com o Brasil. Será que Emmanuel Macron também planejou uma biblioteca e um teatro desmaterializados para substituir esses lugares onde o multiculturalismo surge diariamente entre as estantes de livros e uma fileira de bancos dobráveis? Serão eles também substituídos por telecentros de serviço consular, que já substituíram a recepção física no consulado?
O fechamento dos consulados honorários da França em Vitória e Belo Horizonte segue a mesma lógica contábil: eliminar despesas desnecessárias até que o que ainda existe se torne inoperante.
Construído nos anos 50 em terreno cedido pelo Brasil à França, graças à ajuda financeira da comunidade francesa, o edifício tem sido o símbolo da diplomacia francesa e da cooperação cultural no Brasil durante 70 anos.
Foi um lugar de resistência contra a ditadura militar, onde os estudantes da Faculdade de Filosofia da UFRJ, instalada no prédio vizinho (agora ocupado pelo consulado italiano), se encontravam com os intelectuais da época e bebiam as ideias de nossos escritores. Sua influência continuou com o “Théâtre de la Maison de France” e a “Bibliomaison”, que são lugares emblemáticos da presença francesa no Brasil. O teatro acolheu o melhor repertório dramático do país, em particular o de personalidades como Tônia Carreiro e Fernanda Montenegro, antes de se tornar a primeira vítima da desvinculação do Estado Francês e de fechar definitivamente suas portas em 2020.
Não deixaremos desaparecer a Maison de France! Muitos atores culturais franceses e brasileiros já expressaram sua indignação e nós nos unimos a eles para reforçar essa mobilização. Quando um espaço cultural fecha, é uma parte da humanidade que se perde. Convidamos a todos a se juntarem a este apelo e a partilharem conosco suas lembranças deste edifício.
Mandato Coletivo
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